Quando alguém,
geralmente bem-intencionado, usa a expressão “descentralizar”, a interpretação
comum é que quer dizer “fazer umas coisas no Porto”. O que nada tem de mal,
como é óbvio. Mas talvez tenha outro mérito montar do nada algo como uma Bienal
de Ilustração em Guimarães (BIG, 2017). Para além do evento em si, é uma prova
que há ainda gente que faz, sem lamentos, numa cidade/região que tem crescido
(também) com a formação nesta área. E destaca-se pela qualidade que, desde o
catálogo à escolha de autores, só não surpreende porque não se esperaria outra
coisa do seu mentor: o pintor, ilustrador e autor de BD Tiago Manuel. Que até é
de Viana do Castelo.
Até 31 de Dezembro, em
vários espaços da cidade descobrem-se trabalhos de autores consagrados e menos,
realizados em diferentes contextos, num esforço genuíno de revelar o presente
sem esquecer o passado. O qual muitas vezes se recorda em estilo, como sucede
com o elegante trabalho de Luís Filipe de Abreu, homenageado com o Prémio de Carreira,
e que se reconhece instantaneamente de livros escolares, selos ou notas. Mas,
com muito poucas exceções, todos os trabalhos expostos são dignos de registo, e
marcam diferentes opções estilísticas na ilustração nacional, desde alguma
familiaridade, a descobertas ousadas e surpreendentes; do figurativo e onírico,
ao político. Há, no entanto, uma certa tendência para privilegiar autores que
compartilham um regime de cumplicidades estéticas e filosóficas com as diversas
pessoas envolvidas na organização. Algo que até ajuda na criação de uma certa
unidade, e é natural num evento de estreia; mas que talvez possa ser trabalhado
em edições futuras.
O fundamental é isto:
tal como, por exemplo, o Festival de BD de Beja, a primeira edição da Bienal de
Ilustração de Guimarães podia ter sido noutro sítio qualquer (incluindo,
naturalmente, Lisboa). E mereceria os mesmos elogios.
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