segunda-feira, 27 de novembro de 2017

BIENAL


Quando alguém, geralmente bem-intencionado, usa a expressão “descentralizar”, a interpretação comum é que quer dizer “fazer umas coisas no Porto”. O que nada tem de mal, como é óbvio. Mas talvez tenha outro mérito montar do nada algo como uma Bienal de Ilustração em Guimarães (BIG, 2017). Para além do evento em si, é uma prova que há ainda gente que faz, sem lamentos, numa cidade/região que tem crescido (também) com a formação nesta área. E destaca-se pela qualidade que, desde o catálogo à escolha de autores, só não surpreende porque não se esperaria outra coisa do seu mentor: o pintor, ilustrador e autor de BD Tiago Manuel. Que até é de Viana do Castelo.

Até 31 de Dezembro, em vários espaços da cidade descobrem-se trabalhos de autores consagrados e menos, realizados em diferentes contextos, num esforço genuíno de revelar o presente sem esquecer o passado. O qual muitas vezes se recorda em estilo, como sucede com o elegante trabalho de Luís Filipe de Abreu, homenageado com o Prémio de Carreira, e que se reconhece instantaneamente de livros escolares, selos ou notas. Mas, com muito poucas exceções, todos os trabalhos expostos são dignos de registo, e marcam diferentes opções estilísticas na ilustração nacional, desde alguma familiaridade, a descobertas ousadas e surpreendentes; do figurativo e onírico, ao político. Há, no entanto, uma certa tendência para privilegiar autores que compartilham um regime de cumplicidades estéticas e filosóficas com as diversas pessoas envolvidas na organização. Algo que até ajuda na criação de uma certa unidade, e é natural num evento de estreia; mas que talvez possa ser trabalhado em edições futuras.
O fundamental é isto: tal como, por exemplo, o Festival de BD de Beja, a primeira edição da Bienal de Ilustração de Guimarães podia ter sido noutro sítio qualquer (incluindo, naturalmente, Lisboa). E mereceria os mesmos elogios.

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